"O livro do Ontem"








Índice


Prólogo
A saudade do Ontem
Tempo e memórias
Queria
Se eu soubesse…
Cruzei essas ruas
Esse velho tronco
Dias amarelos
Histórias
Quadro Intocável







Prólogo

Histórias de um tempo e de momentos que não voltam para trás mas que foram vividos. Um sonho de chegar além, a essa Terra Nova, o México.
Ilusões e verdades, sentimentos e despedidas são feitas as memórias. Algum dia voltarei a chegar até ti… Caminharei nessas ruas coloridas e pequenas, nessas avenidas intermináveis até ao infinito. Só tu entendes minhas Palavras cidade linda, pais precioso pelo qual me apaixonei… pois sei que a alma sempre será Mexicana.
Um até já…
O nosso tempo sempre foi diferente do que marcam os relógios.

Catarina Dinis
Setembro de 2013







A saudade do Ontem

A saudade do ontem
Pedras carregadas de musgo
Lembranças sem laços vermelhos
São Outonos sem folhas
Sem aqueles pássaros que viviam na minha janela
Como poderei eu esquecer…
Acordavam-me, quando tu sol
Chegavas entre o céu azul…
Outono sem tempo
Ainda lá vivemos abraçados…
São saudades do ontem






Tempo e memórias

O tempo tem tantas palavras apagadas
Tantas memórias queimadas
O tempo é o impossível
A utopia para enganar o coração.






Queria…

Queria partir
Sem ter chegado
Queria ter resistido
Ao teu olhar devastador
Se de dor sofria
Descobri que o negro apenas existia
Em mil universos…
Não havia nada
Apenas vazio
Hoje não há nada
Apenas vazio
Hoje não há nada
Apenas silêncio
Queria voltar atrás
E evitar de cada vez
Em cada segundo
Ter entrado nesse lugar sombrio
A que chamam ao teu coração
Não há resto de nada
Não há sequer suavidade
Nas lembranças
Não há palavras que resistam
Não há sobreviventes entre os dois.







Se eu soubesse

Não sabia que ias partir
Não sabia que o vento forte te arrancava de mim
Ai se eu soubesse…
Se eu adivinhasse…
Nunca te teria amado
E embarcado
Na tormenta que é o teu oceano
No deserto que há em teu olhar
Aventurei – me a ir mais além de nós
Mas não seguiste meu trilho
Nem encontraste - te mais o amanhecer.







Cruzei essas ruas

Como eu cruzei essas ruas
Segura de mim e dos meus sonhos
Embriaguei-me de sabedoria
Conheci-te como a ninguém
Amei-te antes de em ti entrar
Tudo em ti é minha casa…
Sinto a tua ausência…
Sei que não tardará…
Tu me darás a mão…
Sussurras com a tua brisa…
Beijarás com a tua fragrância
De Buganvílias e Jacarandas
Porque és assim cor e vida,
Silêncio e multidão….

(dedicado ao df)






Esse velho tronco

Desapego-me desse tronco
Velha árvore
O vento sopra nela
Com as décadas encontrou
As fraquezas que a derrubam
Folhas que suspendem
Mágoas e felicidade
Flores com a essência do amor
Outrora colhido na Primavera







Dias Amarelos

Por vezes sinto tenho falta dos dias amarelos

Dos dias de Outono quente eterno
Sem o som do mar ou búzios
Tenho saudades do vale encantado
Do azul límpido do céu distante
Cruzar a cidade, o coração
Cruzar as ruas, saltar muros de betão
No meio, o verde, o parque
A chuva sobre o corpo livre
Cidade eterna.
Sem tempo ou colunas gregas
Sem ser ocidente, só ser natural
Entre as plumas negras e o jade
Jazem em silencio segredos
Pirâmides que enfeitam o horizonte
No ar o doce sabor do açúcar
De que é feito os sonhos







Histórias

O toque da manhã

Alterou-se com o passar do tempo
A porta desgastou-se
Ele levanta-se nem o sol nasceu
O frio aperta no corpo
A alma há muito morreu
Esfrega as mãos
Procura aquecer
O que o fogo transformou em cinza
Vai olhar o espelho
Lá atrás já nada tem significado
Ela nem nos sonhos vive
Ela não está nem na casa fantasma
Ela não é dele
Nunca devia ter sido
Ele sai porque a vida continua
A cidade pura luz
Ele sai porque sabe que tem que sobreviver
A vida esfaqueou-o
Degolou - o seu sorriso
Os seus pensamentos
As suas asas quebradas
Pelo amor doentio
Ela segue alheia a tudo
Ele não sabe
Mas ela é feliz
E vai para casa
Vai para os braços que a protegem
Ele tem que prosseguir o seu caminho
Será difícil…
Vai fugir entre as ruas e avenidas
Irá fechar os olhos
Procurando refugiar-se no seguro
Erro crasso
Será a morte inevitável
(Ele sabe que nada perdura)
O tempo suficiente
Para permanecer para sempre
Vai chegar a hora do sol amanhecer
E sabe que vai lembrar do sabor do beijo dela
A suavidade da pele branca
O cheiro do creme espelhado pelo corpo
Quando tomava banho
Para poder sair e viver
O seu sonho a sua maneira
Mas ela já não se recorda…
Ele vai sentar no banco do carro
E vai lembrar-se dos lençóis molhados de amor
Do cigarro que ficou por fumar com a pressa
Vai lembrar do copo de vinho
Que sempre teimava em cair
Porque ela sempre tinha de ir contra esse copo
Mas ela está tão longe que
A memoria apagou essas lembranças
Ele vai lembrar-se todos os dias
Que não foi capaz de amar como queria
Capaz de lhe pintar o céu na cor que ela queria
Ele não foi capaz de ir e regressar
Ele não foi capaz de arrancar os grilhões que o prendiam
Ele não foi capaz de viver…
Mas ela foi capaz de partir de ela mesma…








Quadro Intocável
  
O quarto parece um quadro intocável
Na cama do passado repousa a luz sepulcral
Do que fora outrora rosa paixão
Os lençóis brancos empoeirados
Magoam os meus olhos de lembranças
E vem a memória tempos vazios
Esgotados de sentimentos
Mergulhados nas sensações.
A cadeira onde sentava olhando para a luz da rua
Esperando que os ponteiros 
Desvendassem as próximas horas
Os dias iam dando lugar as quentes noites
Continuava sentada junto das rosas
O abrir de porta tão familiar
Antecipava o beijo profundo
Nesses momentos
O mundo éramos nós
Eu não alcançava escutar nada
Nem as gotas de chuva e lágrimas
Que caiam cá fora sobre o jardim,
O meu coração parecia imune a solidão
A tristeza vivia no exílio…
Nem me lembrava do que era o passado profundo
Ambos lado a lado
Éramos o tudo … que nunca
Desenhará o futuro separados
Ainda que sabendo que não estavas destinado para mim
Ainda que não te ame mais
Esse meu lugar tirado entre a tirania.
Perdi um trono que apenas ao vento pertence
Apesar de amar-te em vão
Houve momentos em que a casa foi nossa
Mas fora construída sobre o vazio da ilusão

Sei que o quarto permanece
Mais do que nós…
Em segredo invejo
Quem permanece lá
Vivendo entre as nossas paredes
E as nossas historias sem conseguir
Alcançar ver.


















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